
Apresentação
Sérgio Freitas inciou a transição da PIB New Jersey, que até então tinha apenas cultos para brasileiros, para a visão celular.
A estratégia veio para que ganhassem pessoas de todas as etnias para Cristo através dos pequenos grupos. Ele falou sobre os seus desafios e vitórias nesta caminhada.
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Sérgio, sendo uma igreja brasileira com os cultos e programações em português, como é que funciona essa questão da língua?
A nossa igreja foi fundada por brasileiros, há 25 anos atrás, mas ela já deixou de ser uma igreja de brasileiros fundamentalmente porque vivemos uma terceira geração de filhos dos imigrantes que começaram a sua edificação.
Quando eu cheguei não havia um culto regular em inglês, era uma igreja que pensava muito para brasileiros mesmo já tendo gerações dos filhos americanos, porque mesmo que seu filho nasça nos Estados Unidos, sendo americano ele tem a cultura brasileira por causa dos pais.
Entretanto, as relações deles são todas americanas, então a primeira língua dele é o inglês, eu não posso deixar de viver a experiência de igreja sem lembrar desses.
Por outro lado também, nós não podemos só pensar em brasileiros visto que estamos numa grande capital, num grande estado ao lado de Nova Iorque que é uma referência no mundo inteiro, sendo que nós temos pessoas de todas as línguas na nossa região.
Em 2015, nós acrescentamos no nosso nome o Church of the city, que é igreja da nossa cidade, para mostrar que nós somos locais, que nós somos do povo, que como igreja agente quer chegar aos nossos vizinhos.
Então as nossas programações, sexta-feira nós temos culto regular para adolescentes e jovens em inglês e aos domingos nós temos o culto em português e, uma vez por mês, porque nós estamos transicionando a cultura, nós temos a celebração completa em inglês, até para que a gente consiga alcançar o público que está ao nosso redor.
Qual é o perfil das pessoas? São brasileiros, norte-americanos ou de outras nacionalidades?
Por ser uma igreja que foi fundada por brasileiros, a grande maioria é de brasileiros, também temos os de língua portuguesa que são portugueses. Temos pessoas que falam espanhol das mais diversas partes do mundo, temos argentinos, venezuelanos, cubanos, e americanos.
Não só que são filhos dos imigrantes, mas são americanos que chegaram para nossa comunidade cristã e estão vivendo a igreja com a gente, especialmente por conta dos pequenos grupos.
Como que foi transmitir para os membros que a igreja iria "abrir suas portas" para outras etnias?
Quando eu cheguei existia esse perfil de bairrismo das pessoas, de “eu fundei isso aqui para mim, para viver a experiência para mim e para os meus”. Mas a igreja é muito carinhosa, é muito querida.
Quando me convidaram, foi a primeira pergunta que me fiz, “Deus o que que uma igreja de 21 anos, quer com um cara como eu de, na época, 30 anos de idade?”
Deus foi muito claro comigo dizendo que a igreja desejava algo que ela não sabia exatamente o que era, mas o ficar no mesmo lugar era inadmissível.
Para ser muito sincero a inclusão do Church Of The City, a mudança do logo, a mudança da identidade visual da igreja foi sensível porque desde que eu cheguei eu comecei a pregar sobre a nossa missão, sobre o nosso ir e o nosso ir não é para nós, não é para o nosso jeito, não é pra nossa língua, é para o mundo inteiro.
E que mundo é esse? O mundo é tudo que está aqui a nossa volta, nós não podemos estar nos Estados unidos com as nossas portas fechadas e se o americano, ou alguém que fala inglês ou espanhol, quiser chegar? Não vai encontrar abrigo, não vai encontrar casa...?
Então a igreja veio engravidando disso e veio assimilando isso com muita alegria, e hoje o que a gente vive é um resultado daquilo que Deus colocou no nosso coração mesmo como igreja.
E isso que você descreveu - caráter multicultural, mudança, transformação - é uma característica que vocês criaram, ou é algo que acontece também em outras igrejas brasileiras?
A resposta para esta pergunta tem uma premissa: Tudo que eu manifesto aqui são visões que eu tenho das relações aqui e sou muito recente aqui nos Estados unidos. 3 anos e meio é muito pouco para eu compreender uma cultura de igreja que está aqui há 3 gerações.
Dito isto, o que eu sinto é muito pelo contrário. há uma sensação de posse, de que eu sou brasileiro e eu vou viver para brasileiros.
Eu ouvi isso aqui já, na minha comunidade, logo no início que cheguei: “Se os hispanos, se as pessoas que falam espanhol quiserem uma igreja que eles procurem uma igreja que fale espanhol.”
Eu acredito que, como a gente chama aqui, se essas igrejas étnicas não transicionarem para uma multicultura, para um lugar multilíngue, mesmo que seja algo que seja desconfortável para alguns, se não fizer isso as igrejas vão morrer.
Como é que eu vou chegar no meu vizinho, que é americano, e pregar o evangelho para ele? Falar de Jesus para ele? Me relacionar com ele de maneira intencional?
Aí o cara me ama, o cara vai se ligar à mim e quando ele saber do que eu vivo, de onde vem isso que eu vivo, eu falo assim: “Ah, é da minha experiência cristã e eu fortaleço isso numa comunidade cristã”. Aí ele fala assim “Eu quero ir com você!”. Então vou falar: “Não, não vai comigo porque só fala português”. Isso não entra na minha cabeça!
E por outro lado, o segundo aspecto é: a gente vai morrer, a primeira geração vai morrer, a segunda geração vai morrer, e os filhos? Eles vão ficar sem comunidade cristã ou vão para uma igreja americana.
E do jeito que a gente gosta de fazer igreja, do nosso calor latino, Meu Deus, a gente tem tudo para transformar os Estados Unidos no nome de Jesus.
Você acredita que essa sua percepção tem a ver com o fato de estarem no modelo celular?
O modelo de igreja celular veio de encontro ao meu coração com Deus, mas a visão celular é fruto de um incômodo, é fruto de um clamor, é fruto de uma angústia de nós não estamos sendo de fato uma igreja que Jesus estipulou para a gente ser.
E o modelo celular aqui nos Estados Unidos tem características similares ao do Brasil. Mas eu acredito que ele não é muito forte como o que acontece no Brasil especialmente porque que falta o tempero nosso. A gente tem um tempero especial de chegar nas pessoas. O que a gente está aprendendo aqui é de como lidar nessa multicultura.
Porque o americano é fechado, ele precisa do espaço dele. Então, como viver em célula numa cultura onde as pessoas não querem abrir suas casas?
Por exemplo, a gente está aprendendo o que já é feito no Brasil, que é primeiro ter relacionamento. E não tem jeito, depois que a pessoa me ama, depois que a pessoa tem o meu coração e eu tenho o coração da pessoa, ela vai para onde eu for.
Então, é primeiro no meu relacionamento, depois é qualquer lugar, então esse qualquer lugar que é lugar de edificação e crescimento e de fazer igreja na célula.
Algo que acontece no Brasil é o relacionamento mútuo entre pastores. Temos a Igreja da Cidade, do Pr. Carlito Paes, com a Rede Inspire, tem o DNA Central, do Pr Paulo Mazoni e vários outros.
Sérgio, nos Estados Unidos há projetos neste sentido? Essa ligação entre os pastores, esse apoio à igrejas?
Sim e não. Institucionalmente não. Eu, Sérgio, 3 anos e meio aqui, não Eu não conheço um lugar onde nós encontramos apoio e suporte de maneira institucional, eu diria. Mesmo que hajam instituições para isso.
Entenda bem, existem instituições para isso, mas eu não sinto esse suporte de maneira a pastorear.
Mas, existem preocupações mútuas entre parceiros pastores, eu tenho alguns parceiros aqui próximos a mim que a gente não tem reserva para poder conversar sobre o coração.
Mais uma vez, eu estou sendo muito cauteloso para dizer daquilo que eu sinto porque é o meu jeito de pensar.
Igrejas étnicas, como a minha, as pessoas vem e aí aqui ou já são pastores, ou se tornam pastores, ou se autodenominam pastores e abrem um trabalho e começam a trabalhar em uma igreja. Por causa disso, meu sentimento é que as pessoas que são da igreja dele são como se fossem cabeça de gado que são propriedade daquele pastor.
Há um negócio que eu digo que é terrível, para não dizer que completamente diabólico, onde as pessoas não se conectam por medo umas das outras, o que é absurdo. Então, eu não sinto que há essa cooperação.
Porém, eu preciso acrescentar dois pontos que eu acho que são relevantes.
Primeiro, não sei se as pessoas vão conseguir dimensionar isso, mas a cultura aqui, mesmo a gente sendo brasileiros, é uma cultura de uma correria gigantesca, o movimento aqui é mais rápido. Aqui as horas passam muito mais rápido, especialmente no inverno, é um período de muito cinza, de muito frio associado à tristeza e ao recolhimento para dentro de casa.
Então, talvez por conta da cultura, e não estou falando que eu concordo e que ela é boa, mas por conta da cultura também acho que há esse isolamento tão grande por conta do trabalho.
Segundo, eu recebo apoio, suporte, coaching, pareceria, pastoreio, dos meus parceiros aí do Brasil, dessas igrejas que você citou. Paulo Mazoni foi o grande cara que me influenciou, me influencia e me influenciará, no jeito simples de viver a igreja simples, na experiência em células ele foi um grande motivador, já esteve aqui na igreja duas vezes e é um cara que seu ligo ele me atende para a gente poder conversar e falar.
Pastor Carlito também, que é um amigo, parceiro, então enquanto eu não encontro aqui esse tipo de parceria, para viver a experiência celular nesse tipo de igreja que vivemos, eu estou recorrendo aos queridos do Brasil.
Você percebe alguma diferença do que as pessoas buscam quando vão em um culto de domingo, da sua igreja do que você via na sua experiência no Brasil?
Estou pensando no brasileiro ou de língua portuguesa, certo? Então fundamentalmente, as pessoas vem para cá e procuram em uma comunidade cristã, seja através da célula ou das celebrações dos grandes cultos, o sentimento de família. Não no sentido “Ah que coisinha maravilhosa, ah que gostoso". É família para ela, ela quer ter um lugar para sair, ela quer ter um lugar onde ela vai fala a língua dela.
Não no sentido que eu gostaria que fosse, no sentido de “Ah, vem pra cá, se torne família e vamos somar todos, eu a você e você a mim”, então é um servindo o outro. A igreja se torna uma ferramenta de preenchimento de vazio, certo?
Deus não é o motivo principal?
Não, não, a priore não. Porém, essa motivação, eu costumo dizer para todos aqui, “Não importa a motivação que a pessoa recorra a uma célula ou recorra ao grande culto, vamos aproveitar essa motivação para fazer o nome de Deus conhecido”.
Então, se a pessoa vem porque ela precisa de abrigo, o que que eu vou dar para ela, vou dar abrigo, imediatamente vou dar abrigo para ela, ela precisa de casa a gente vai ajudar ela alugar um apartamento, ela precisa de roupa a gente vai dar roupa, ela precisa de roupa de frio, ela precisa de carrinho para o bebê, ela precisa de carro para comprar, a gente vai ajudar em tudo isso, para que o nome de Deus seja conhecido, mas enquanto fazemos isso, vamos ensinando quem Deus é.
Muitas vezes a gente nem usa o texto bíblico em si, muitas vezes a gente nem usa uma frase de efeito, não. É o nosso amor que está mostrando para ela o quanto que nós amamos sem nada em troca, porque amanhã ela vai se colocar nesse mesmo lugar e vai ter oportunidade de servir também. E esse é um lema da nossa igreja: o acolhimento.
É um grupo de pessoas imperfeitas olhando para cruz. Estamos indo todo dia em direção à cruz e por causa desse movimento estamos sendo melhores como humanos, como cristãos, como pessoas. Nós aproveitamos isso para mostrar Jesus para essas pessoas.